Olá seguidores atentos do blogue do
CAPTA (será?). Após estes tempos de ausência, que se podem justificar com o
ritmo agitado das nossas vidas, finalmente voltamos a dar notícias. E estas
trazem água no bico! Na semana do dia mundial da voz (16 de Abril), o CAPTA
promoveu rastreios de voz gratuitos. Em termos de adesão foi um verdadeiro
sucesso, ou não estivéssemos nós numa época em que é preciso aproveitar as
oportunidades que surgem. O rastreio permitiu reunir uma boa dose de dados
relativos à voz que se mostram pertinentes para trazer mais alguma iluminação
ao mundo. É hoje nosso objectivo divulgar como param as modas no que toca à colecção Primavera/Verão das vozes que nos chegaram, por isso aqui fica uma tabela que resume as principais
apreciações.
Estes são dados extraídos das anamneses e avaliações efectuadas durante
o rastreio, tendo sido compilada a tabela com as que se mostraram mais
pertinentes.
Como se pode verificar, do
universo de pessoas que participaram no rastreio, a maioria era do sexo
feminino. Associado a isto está o facto de a profissão mais encontrada ser a de
professor e das suas variantes (educador, formador, etc). esta ocorrência vai ao encontro
dos dados já existentes relativos ao facto de as mulheres terem mais problemas
vocais devido a mau uso da voz, assim como de a profissão mencionada ser uma
das que mais apresenta problemas vocais e que procura a terapia da fala nesse
âmbito. Além disto, os dados reunidos em relação aos hábitos de fala, às
exposições ambientais e às variações vocais corroboram especialmente com o
factor profissão. Sendo a maioria dos participantes no rastreio da área da
educação e tendo em conta as exigências da mesma actualmente, é possível
deduzir (e neste caso verificar) que os hábitos de fala prejudiciais sejam
elevados nesta classe, assim como as variações vocais (diárias e com diferenças
entre período escolar – período de férias) e a exposição a factores ambientais
desfavoráveis a uma boa saúde vocal.
Por outro lado, os hábitos
tabágicos foram consideravelmente positivos. A maioria dos participantes nunca
fumou e todos aqueles que tiveram esse (mau) hábito anteriormente,
abandonaram-no e não fumavam aquando da realização do rastreio. Dado que o
tabaco constitui um dos piores agressores do tracto e mecanismo vocal (não
mencionando tudo o resto), devemos aplaudir esta boa prática de não praticar o
mau hábito.
Relativamente aos hábitos de
ingestão de líquidos e sono, as aferições foram menos sorridentes. A maioria
dos participantes não bebe o 1,5L de água recomendado (para tanta e tanta
coisa) e isto torna-se ainda mais preocupante quando essa maioria é constituída
por profissionais da área da educação que têm exigências vocais mais
acentuadas. Vamos é fazer aqui um parêntesis pois ingestão de líquidos para hidratação não tem que se obrigatoriamente água. Chás e sumos naturais também contam, mas para os presentes objectivos, a ingestão desses líquidos foi contabilizada como água (só para facilitar a vida aos pobres).
As noites mal dormidas, devido a horas insuficientes e/ou
a sonos turbulentos e não seguidos, também são um factor que pode prejudicar o
bom desempenho vocal. Se o corpo se ressente do cansaço, como poderia a voz ser
deixada à margem disso? Mais facilmente terão sinais de fadiga vocal se não tiverem
horas de sono e descanso suficientes.
Entrando agora num plano mais
técnico, associado à avaliação propriamente dita, encontramos o problema da
maioria da população: uma respiração e suporte aéreo desadequados às exigências
vocais, agravando-se isto, mais uma vez, no caso dos “profissionais da voz”.
Aqui fica uma dica terapêutica para os mais leigos: para um bom desempenho
vocal, com maior e melhor uso das potencialidades do aparelho fonador, é
INDISPENSÁVEL a existência de um bom suporte aéreo e de um tipo e modo de respiração
adequados. Nesta matéria, pode dizer-se que os tipos mais adequados serão o
costo-diafragmático (abdominal-intercostal) ou o abdominal, sendo que o
primeiro é o mais exequível.
O tipo costo-diafragmático implica, como o nome indica, a implicação do músculo
diafragma directamente na respiração, permitindo a sua movimentação um aumento
do espaço torácico para dilatação pulmonar e enchendo estes da base para as
laterais e só por fim superiormente. Como se pode verificar do aferido nas
avaliações, 92% dos participantes realizava uma respiração costal-superior,
mais superficial e sem recorrer ao trabalho do diafragma. Esta é uma das causas de mau uso vocal, promovendo o esforço laríngeo e uma má
coordenação pneumofonoarticulatória (respiração + voz + articulação) e podendo ter
consequências mais graves, como o desenvolvimento de determinadas patologias
vocais. Em relação ao modo de respiração, o nasal sobrepôs-se aos restantes, o
que é uma feliz ocorrência. A respiração nasal é muito importante, nomeadamente
no que toca à filtração e aquecimento do ar que inspiramos (ninguém quer
impurezas nem resfriados!).
Terminamos em beleza com um dos
objectivos principais da avaliação vocal que é determinar, perceptualmente, a
qualidade vocal. É de salientar que a voz pode ter várias das características
existentes para classificá-la simultaneamente, ou seja, uma mesma voz pode ter
conjugadas características de rouquidão e soprosidade, rouquidão e tensão,
outros e até mais que duas. Estas características são depois atribuídas pelo
terapeuta à voz do paciente segundo uma escala de gravidade que vai de 1
(ligeiro) a 3 (grave). Não entrando nesses pormenores mais específicos, podemos
verificar que a maioria dos participantes no rastreio apresentava vozes com
rouquidão (sem distinguir a gravidade de cada caso), sendo que muitos também apresentavam
soprosidade, associada à rouquidão ou isoladamente. Isto é de deixar um, ou
mesmo os dois pés, atrás já que algumas destas características, mediante o
grau de atingimento apresentado, poderão indicar o desenvolvimento de uma
patologia vocal ou mesmo que esta já se encontra instalada. Mais uma vez, para
os profissionais da voz isto é particularmente alarmante já que poderá pôr em
causa o desempenho das suas funções.
É de salientar que esta
classificação, sendo perceptual, é subjectiva e deve por isso ser sempre complementada com dados acústicos e objectivos que permitam fazer um quadro
mais preciso das capacidades e limitações dos pacientes.
Não se pretendia apresentar nada
digno de artigo científico (era bonito, mas não vai dar!). O intuito era mesmo
fazer uma chamada de atenção sobre aquilo que se tem como garantido e ao que
nem sempre se dá o melhor uso nem o devido valor. A voz é mais que um
instrumento de trabalho, é uma importante ferramenta de comunicação e
sociabilização. É parte da nossa personalidade na perspectiva do outro e parte
do nosso reconhecimento enquanto “eu”. Foram indicados ao longo deste post
alguns “Do’s and Don’ts” a ter em conta para manter uma voz saudável. Além
disso, deu-se um lamiré daquilo que é a avaliação vocal terapêutica, que não
tem de ser apenas uma prática de reabilitação para quando já existe um problema
instalado pois a prevenção também pode passar por ela. A reter é mesmo o facto
de dever valorizar-se a voz e a sua saúde porque se ela fizer greve, vão
sentir-se pior do que quando é a CP a fazê-la. Podem apostar.